MATERIAL DE APOIO


MATERIAL INSTRUCIONAL DE APOIO
APRESENTAÇÃO

Nesta seção do trabalho é apresentado o material de apoio utilizado na proposta didática descrita no capítulo 5. Os textos contidos neste material foram elaborados cuidadosamente tendo como referenciais artigos e livros bastante conhecidos no meio acadêmico.
Os capítulos a seguir apresentam informações acerca da gravitação universal, tendo como ponto de partida algumas das primeiras ideias de universo que surgiram na Antiguidade, passando por alguns dos modelos planetários desenvolvidos na Idade Média e início da Idade Moderna além de algumas considerações sobre temas de gravitação estudados diariamente nas escolas de ensino médio por todo Brasil, que vão da lei da gravitação universal de Newton até algumas das ideias de Einstein sobre a gravidade.
Apesar de não se tratar de um trabalho em História da Ciência, foi tomado o cuidado de inserir um pouco de história em meio aos textos apresentados, na tentativa de aproveitar alguns dos pontos positivos descritos por Martins (2007) oferecidos por ela no ensino de física, como, por exemplo, o ajudar no despertar da curiosidade dos alunos e o seu interesse pela ciência.

SUMÁRIO

1. A ORIGEM DO MUNDO
1.1.O universo na Antiguidade: Algumas das primeiras ideias
2. OS EPICICLOS DE HIPARCO E O UNIVERSO SEGUNDO COPÉRNICO E JORDANO BRUNO
2.1. Os epiciclos de Hiparco
2.2. O universo de Copérnico
2.3. O universo segundo Bruno
3. GALILEU: SUA VISÃO DE MUNDO E SEU ESCORREGÃO COM OS COMETAS
3.1. O universo de Galileu
3.2. O escorregão de Galileu
4. AS OBSERVAÇÕES E O MUNDO DE TYCHO BRAHE
5. AS LEIS DE KEPLER
6. NEWNTON, A MAÇÃ E A GRAVITAÇÃO
6.1. A história da maçã
6.2. Lei da Gravitação de Newton
6.3. Lei do inverso do quadrado
6.4. A gravitação perto da superfície da terra
6.5. Gravitação no interior da terra
7. EINSTEIN E A GRAVITAÇÃO
REFERENCIAIS

1.      A ORIGEM DO MUNDO

A origem do universo é um tema que sempre interessou a toda a humanidade. Em todos os povos, em todas as épocas, surgiram muitas e muitas tentativas de compreender de onde veio tudo o que conhecemos. No passado, a religião e a mitologia eram as únicas fontes de conhecimento. Elas propunham certa visão de como um ou vários deuses produziram esse mundo. (MARTINS, 2012, p.1)
Sabe-se que desde os tempos mais remotos da humanidade, quando nossos antepassados ainda viviam nas cavernas, que os fenômenos celestes causavam grande impressão nos homens. Com o passar dos tempos tais fenômenos inspiraram o surgimento de crenças ou mesmo religiões que consideravam astros, como o Sol, por exemplo, como um deus. Este aspecto histórico está atrelado à religião das primeiras civilizações de que se tem conhecimento. A desvinculação deste aspecto se deu através de acontecimentos sucessivos ao longo da história.
Durante a história da humanidade sempre existiu a necessidade de se observar, estudar, questionar e explicar os fenômenos naturais. O homem ao longo dos séculos vem demonstrando sua capacidade de interagir com a natureza das mais diversas maneiras.

1.1. O universo na Antiguidade: Algumas das primeiras ideias

A curiosidade e a necessidade de explicar a estrutura e o surgimento do universo apareceram no homem há milhares de anos. Desde vários séculos antes de Cristo, não se sabe quando nem o quanto, os caldeus e os egípcios já observavam e estudavam os céus.
Na Grécia antiga, por volta do século IX a.C., já se vivia a realidade de estudar os corpos celestes. Por este período o poeta Homero detalhava a Terra como um disco gigante flutuando sobre as águas do imenso oceano (Cury, 2003).
O filósofo Tales de Mileto acreditava na concepção de mundo defendida por Homero, no entanto ele foi um dos primeiros estudiosos a questionar racionalmente essa concepção, ao deixar de lado as explicações mitológicas. Tales questionou qual seria realmente o processo que deu origem ao Universo, da mesma forma como procurou saber de que matéria fundamental era constituído (Cury, 2003). Ao deixar de lado as superstições, ele propôs que tudo nasce da água, tornando esse, talvez, o primeiro pensamento científico da história (Contador, 2014).
Anaximandro, 611 a.C. – 545 a.C., também de Mileto, concebeu um universo infinito em extensão e duração, sendo constituído por uma matéria indestrutível e eterna, sem propriedades definidas, origem de todas as coisas que existem no cosmo. A Terra seria uma coluna cilíndrica envolvida pelo ar que flutuava no centro do universo, sem ponto de apoio, rodeada de anéis com orifícios através dos quais se viam os astros que seriam o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas, sendo possível ainda, visualizar o fogo cósmico que encheria o espaço nos intervalos entre os anéis (Contador, 2014). Esse seria o primeiro modelo mecânico do universo.

Alguns anos depois, Anaxímenes (550-480 a.C.), que fora discípulo de Anaximandro, criou um conceito mais complexo para o universo quando afirmou que as estrelas ficavam presas a uma esfera transparente de material cristalino, convencendo a todos de sua época e tornando seu modelo em um dogma da Astronomia que perdurou até o início do século XVI (Cury, 2003).

Figura 01 – Sistema Astronômico Geocêntrico Clássico. (CONTADOR, 2014, p.22)

Para o também grego Filolau de Crotona, 425 a.C., a Terra rolaria no espaço, girando vinte e quatro horas ao redor de uma fogueira central, que era estacionária, e não deveria ser confundida com o Sol, onde habitavam os deuses. A terra só não era queimada por esse fogo porque existia um planeta invisível, chamado de Antiterra, entre a Terra e o fogo, que a protegia. Tudo pareceria girar em torno da Terra, mas o Sol, a Lua e os cinco planetas também girariam em órbita concêntrica em torno do fogo central (Contador, 2014).

Figura 02 – Sistema Astronômico de Filolau. (CONTADOR, 2014, p.25)

Aristóteles desenvolveu uma nova Física para tentar entender o universo. Na sua época, aos poucos, a visão de uma Terra esférica foi sendo aceita. A partir de então, ao estudar o movimento dos objetos terrestres, ele concluiu que existiam coisas “pesadas”, como sólidos e líquidos, que caem no sentido do centro da Terra; e outras coisas “leves”, como o ar e o fogo, que se afastam do centro da Terra. Dessa forma, todos os objetos pesados possuíam uma tendência natural de se aproximarem do centro do universo, assim como os objetos leves de se afastarem dele (Martins, 2012).
A partir dessas considerações, Aristóteles imaginou que deveria se formar naturalmente um aglomerado de matéria pesada no centro do universo e, como essa matéria pressionaria de todos os lados para o ponto central, que não cai para nenhum lado, formaria uma grande massa redonda no seu centro, explicando o porquê da Terra ser o centro do universo e, consequentemente, não cair (Martins, 2012).

Figura 03 – A estrutura do universo, segundo Aristóteles e Ptolomeu: a Terra ocupa o centro do universo, e os quatro elementos preenchem todo o espaço abaixo da esfera lunar. Acima dela, haveria uma série de cascas esféricas onde se moveriam os diversos planetas. A última casca seria o céu estrelado. (MARTINS, 2012, p.92)

Ao observar que os astros (Sol, Lua, estrelas, planetas) não caiam no sentido da Terra, Aristóteles concluiu que eles não poderiam ser formados nem por elementos pesados nem por elementos leves, ou seja, água, terra, fogo e ar. Assim, ele propôs que existiria um quinto elemento, conhecido por “éter” que seria responsável pela composição dos corpos celestes (Martins, 2012).
O universo seria dividido, então, em duas partes distintas, o mundo celeste, ou supralunar, que seria feito de éter e o mundo sublunar (abaixo da Lua), que seria formado por terra, água, ar e fogo. Aristóteles pensava como quase todos os antigos, para ele era impossível a existência de espaços totalmente vazios de matéria. Por isso, imaginou que a atmosfera da Terra chegasse até a Lua e, a partir daí, haveria uma série de esferas transparentes, feitas de éter, encaixadas umas nas outras, que girariam em torno da Terra, arrastando os astros. Essas cascas esféricas foram chamadas de orbes, sendo a mais distante o orbe das estrelas, onde o universo terminava (Martins, 2012).

As cascas esféricas, assim como os corpos celestes são formados por um fluido que Aristóteles denomina éter – derivado do grego aéi thein (correr continuamente). O éter imperecível e divino não tem nada em comum com os elementos terrenos. Assim, por exemplo, não é pesado nem leve. E, diferentemente de toda matéria terrena, pela sua própria natureza move-se em círculos. (BÜTTNER, 2008 ou 2009, p.56)

Heráclides do Ponto (287 a.C.), tomou como certa a rotação da Terra em torno de seu próprio eixo para explicar o dia e a noite. Ele propôs que a rotação diurna dos céus resultaria da rotação da Terra em torno de si e aceitou as estrelas fixas, pois jamais mudavam de posição nem em relação à Terra nem à elas mesmas, pensando que elas giravam em torno de nosso planeta com a mesma velocidade o que garantiria a lei e a ordem do universo (Contador, 2014).
As estrelas fixas não constituíam um problema, nem o Sol e a Lua, que pareciam deslocar-se mais ou menos regularmente. O grande desafio era explicar o movimento dos planetas, que se deslocavam muito irregularmente, ora avançando, ora retroagindo, ao longo da faixa do zodíaco (Cury, 2003).
Heráclides, tentando resolver essas dificuldades, além de sugerir que a Terra devia estar no centro do universo, observou que Mercúrio e Vênus, como nunca se afastavam muito do Sol, deveriam girar ao seu redor. Para ele, deve ter sido muito mais fácil supor que Mercúrio e Vênus circundava o Sol do que aceitar que esses dois planetas girassem em torno da Terra, como os demais. Ele tornou-se o primeiro filósofo-astrônomo a sugerir o semi-heliocentrismo do universo, no qual Mercúrio e Vênus orbitariam ao redor do Sol, que por sua vez circularia ao redor da Terra (Cury, 2003).
Figura 04 – Sistema de Heráclides. (CONTADOR, 2014, p. 32)
Aristarco de Samos (310 a 230 a.C.) foi o primeiro homem a colocar o Sol no centro do universo e a Terra como mais um simples planeta girando em torno de si. Para ele, apenas a Lua e as estrelas continuaram fixas, e se pareciam mover-se, era por causa do movimento da Terra. Tal teoria era ensinada, na época, pelo próprio Aristarco, e esse fato foi aceito por estudiosos antigos e modernos que deram o título de Copérnico da Antiguidade ao grego. Infelizmente, a antecipação heliocêntrica de Aristarco não vingou, pois vários matemáticos e astrônomos se opuseram a ela por pensarem que a Terra deveria ocupar o centro do universo por determinação dos deuses (Contador, 2014).
Aristarco fez as primeiras medidas das distâncias da Terra até a Lua e o Sol, e verificou que a Lua era menor do que a Terra, mas o Sol era muito maior. Concluiu, assim, que o Sol era mais importante e que não poderia ficar girando em torno da Terra. No entanto, as ideias de Aristarco não foram aceitas na sua época. (MARTINS, 2012, p.94)

Figura 05 – Sistema Heliocêntrico de Aristarco. (CONTADOR, 2014, p.36)

2. OS EPICICLOS DE HIPARCO E O UNIVERSO SEGUNDO COPÉRNICO E JORDANO BRUNO

2.1. Os epiciclos de Hiparco

Hiparco de Nicéia (aproximadamente 140-129 a.C.), adepto de uma teoria geocêntrica do universo, moveu seus esforços para tentar comprovar a imobilidade da Terra. Para tanto, ele desenvolveu um sistema de epiciclos, que explicariam os movimentos complexos dos planetas em forma de laços.
O epiciclo seria uma circunferência de pequeno raio, na qual o planeta giraria com velocidade constante, o centro desta circunferência giraria então ao redor da Terra sobre outra circunferência, denominada deferente (Braga et al., 2008). (Figura 06)
O planeta percorria um círculo cujo centro geométrico não mais se encontrava na Terra. A distância entre esse centro geométrico e o centro da Terra definia o chamado valor da excentricidade. Com sentidos e velocidades bem determinados, a composição dos movimentos do epiciclo e do deferente pode ser resumida num único círculo – o excêntrico – cujo centro foi simplesmente deslocado (Cury, 2003). (Figura 06)

Figura 06 – Esquema excêntrico, epiciclo e deferente. (BRAGA et al., 2008, p.65)

O ponto equanto, nada mais é do que um ponto deslocado do centro geométrico da órbita circular do planeta, usado para tentar adequar a não-periodicidade dos movimentos retrógrados dos planetas. (Figura 07)
Figura 07 – Equanto. (BRAGA et al., 2008, p.67)

Cláudio Ptolomeu (século II d.C.) combinou a ideia do movimento em epiciclos com a de deferentes excêntricos. O centro do deferente se encontraria a meio caminho entre o centro da Terra e o equanto, um ponto em relação ao qual o movimento no deferente parece uniforme (Schemmel, 2008 ou 2009).
A teoria dos epiciclos bem cedo foi combinada com a doutrina aristotélica das esferas cristalinas homocêntricas, formando uma imagem de mundo que deu origem a um padrão de distâncias dos corpos celestes à Terra. A ideia fundamental dessas distâncias cosmológicas remonta a Ptolomeu. (SCHEMMEL, 2008 ou 2009, p.19)

Ptolomeu foi o mais famoso astrônomo da Antiguidade. Em seu modelo de mundo, ele aceitou as ideias de Aristóteles e elaborou uma detalhada teoria matemática que permitia explicar e prever, com grande precisão, o movimento dos planetas. Durante muitos séculos, seu trabalho não foi ultrapassado por outros astrônomos (Martins, 2012).

2.2. O universo de Copérnico

No século XVI, Nicolau Copérnico propõe uma teoria heliocêntrica, na qual o Sol é o centro do universo em torno do qual se movem todos os planetas. Dessa forma, a própria Terra seria tirada do centro, passando a ser considerada apenas como um dos planetas girando em volta do Sol. Entretanto, a visão geral de Copérnico não era totalmente diferente da antiga. Ele ainda acreditava nos orbes transparentes, encaixados e girando uns dentro dos outros. A diferença é que eles estariam girando em torno do Sol e não da Terra (Martins, 2012).
Foi ele quem, pela primeira vez, conseguiu estabelecer as distâncias dos planetas. Na teoria de Copérnico, o planeta mais próximo do Sol era Mercúrio, seguido por Vênus, Terra, Marte, Júpiter e, por fim, Saturno. Ele conseguiu comparar essas distâncias e mostrar, por exemplo, que a distância de Saturno ao Sol era cerca de dez vezes maior do que a distância entre a Terra e o Sol; e que a distância de Mercúrio ao Sol era cerca de um terço da distância da Terra ao Sol. Ele não conseguiu determinar as distâncias das estrelas, mas propôs que elas estivessem muito mais distantes do Sol do que Saturno (Martins, 2012).
Copérnico tentou ater-se quase que completamente à concepção aristotélico-ptolomaica de mundo: manteve as órbitas circulares com certos epiciclos e também as esferas cristalinas que agora, não mais se tocavam, pois no seu modelo todas as distâncias relativas no Sistema Solar eram dadas pela geometria das órbitas. (SCHEMMEL, 2008 ou 2009, p.24)

Figura 08 – A concepção de universo segundo Copérnico: o Sol ocupa o centro do universo, cercado pelas esferas nas quais se movem os diversos planetas. (MARTINS, 2012, p.96)

Com a Terra se movimentando, alguns problemas, que intrigavam os astrônomos seguidores da tradição ptolomaica há muito tempo, foram rapidamente resolvidos sem a necessidade da utilização de tantos epiciclos e equantes. Entre eles, o problema da variação de luminosidade de cada planeta e o do movimento aparente para trás e para frente dos planetas em relação às estrelas fixas (Contador, 2014).




Figura 09 – Modelo simplificado do sistema copernicano (BRAGA et al., 2008, p.73).

Sete axiomas revolucionários necessários para que o sistema de Copérnico funcionasse, estão presentes em sua obra Nicolai Copernici de hypothesibus motuum coelestium a se constitutis commentariolus (Contador, 2014):
1 – Os corpos celestes não se movem todos em torno de um mesmo centro;
2 – A Terra não é o centro do universo, e sim da órbita lunar e da gravidade terrestre;
3 – Todos corpos celestes giram em torno do Sol; consequentemente, o Sol é o centro do sistema planetário e, portanto, do universo;
4 – A distância das estrelas fixas comparada à distância entre a Terra e o Sol, é insignificante;
5 – Os movimentos diários que aparecem no firmamento devem-se à rotação da Terra sobre seu próprio eixo;
6 – O movimento anual aparente do Sol deve-se ao fato da Terra, com os demais planetas, girar em volta do Sol;
7 – O movimento aparentemente retrógrado dos planetas deve-se apenas ao movimento da Terra.

 2.3. O universo segundo Bruno

A teoria de Copérnico não teria sido muito aceita, logo que proposta, por vários motivos. Ela colidia com a ciência da época parecendo estar em contradição com os fatos conhecidos. E, dessa forma, foi considerada como uma hipótese curiosa e engenhosa, que permitia realizar cálculos astronômicos, mas não descrevia a realidade. Contudo, algumas pessoas, como o italiano Giordano Bruno, começaram a se convencer de que a teoria de Copérnico era verdadeira (Martins, 2012).
Bruno aceitou e levou a teoria de heliocêntrica de Copérnico às suas consequências mais extremas do ponto de vista filosófico. Admitiu que as estrelas estariam muito mais distantes de nós do que qualquer planeta ou do que o Sol, e que existem tantos outros sóis, com planetas à sua volta. O nosso mundo, com a Terra, o Sol, a Lua e os planetas, seriam apenas um dos infinitos mundos em um universo infinito (Martins, 2012).
Bruno considerava que Copérnico teria libertado a humanidade de uma prisão intelectual, expandindo o universo até o infinito.

Quem poderia louvar dignamente a grandeza desse alemão que, com pouca consideração pela multidão tola, voltou-se contra a torrente da opinião vulgar... que libertou o espírito humano e o conhecimento que estavam limitados na prisão estreita do ar turbulento onde, como por certos furos, as estrelas distantes podiam nos olhar... Ele que atravessou o ar, penetrou o céu, espalhou as estrelas pelo infinito, rompeu as fronteiras do mundo, dissipou as fantásticas muralhas da primeira esfera, da oitava, da décima, e de quantas outras quiserem adicionar. (BRUNO apud MARTINS, 2012, p.97)

Mesmo se baseando em Copérnico, Giordano Bruno vai bem mais longe. Copérnico ainda mantinha a ideia de que eram as esferas quem produziam os movimentos dos astros, ele não chega a defender a ideia de um universo infinito, mesmo tendo afirmado que as estrelas estariam muito mais distantes de nós do que se pensava até então. Bruno, sem se basear em nos conhecimentos astronômicos da época, nem nas observações, afirma que não existe sentido nenhum que possa perceber o infinito e que, portanto, jamais poderia se constatar, pela observação, que o universo não tem limites (Martins, 2012).
Bruno defendia que a ideia de um universo finito é incompatível com o poder de Deus. Ele questiona que, se Deus pudesse criar um universo infinito, por que motivo não o criaria? Suas próprias respostas são: ou porque não pode ou porque não quer. Para ele, um Deus que não pode criar um universo infinito não é Deus, pois não seria onipotente; e, um Deus que pode mas não cria um universo infinito seria preguiçoso (Martins, 2012).


3. GALILEU: SUA VISÃO DE MUNDO E SEU ESCORREGÃO COM OS COMETAS

3.1. O universo de Galileu

Galileu Galilei (1564-1642) foi um dos mais famosos defensores do heliocentrismo, tendo proposto uma nova Física para tornar aceitável a ideia de que a Terra se move em torno do Sol, diferente da de Aristóteles. Por defender a teoria de Copérnico, Galileu foi perseguido pela Inquisição, embora não tenha recebido nenhuma penalidade mais grave (Martins, 2012).
Não se pode negar que Galileu tenha contribuído para a criação da nova física e para uma aceitação do sistema copernicano, mas as suas concepções ainda são intermediárias entre o pensamento antigo, de Aristóteles, e a mecânica clássica, de Newton. De modo nenhum ele consegue apresentar uma teoria física completa e satisfatória que seja coerente com o copernicanismo (Martins, 1994).
Em algumas de suas obras, Galileu tratou de temas aristotélicos como o movimento dos corpos em queda em diversos meios, ampliando-os pela inclusão de máquinas simples, como a balança e o plano inclinado, por exemplo. Apesar da polêmica contra a física aristotélica, como o movimento natural e o provocado, ela continuou sendo base de suas discussões (Renn, 2008 ou 2009).
No que se refere à tradição escolástica, a obra de Galileu é destacada pela sua referência à mecânica e pela tentativa da utilização de conceitos e teorias de Arquimedes numa revisão da Física de Aristóteles. Dessa forma, ele substitui, por exemplo, a afirmação aristotélica de que os corpos mais pesados caem mais rápido do que corpos menos pesados, baseado na tese arquimediana de que a velocidade de queda depende do peso específico do corpo (Renn, 2008 ou 2009).
Com a invenção do telescópio em 1609 na Holanda, Galileu pode desenvolver uma nova visão do céu. Após difundir seu telescópio, ele realiza importantes descobertas astronômicas como, as observações da Lua e das fases de Vênus, a decomposição da Via Láctea em estrelas individuais, e, principalmente, a descoberta das quatro grandes luas de Júpiter. Galileu torna-se um astrônomo conhecido em toda Europa, e na China, e o defensor mais proeminente da imagem do mundo copernicana e contestador da imagem de mundo geocêntrica da Igreja (Renn, 2008 ou 2009).
Em relação aos movimentos dos planetas, Galileu tentou aplicar suas ideias sobre o movimento de quedas dos objetos e de lançamento de projéteis para fornecer uma explicação mecânica ao surgimento do sistema planetário (Renn, 2008 ou 2009). “Ele imaginou que o Criador abandonava os planetas a partir de um determinado ponto na direção do Sol, para depois fazê-los circular em torno do Sol, deduzidas a partir das afirmações de Kepler” (RENN, 2008 ou 2009, p.15).
Figura 10 – Representação do cosmo de 1672, meio século após a invenção do telescópio. O Sistema Solar – ordenado segundo Copérnico e incluindo as luas de Júpiter descobertas por Galileu – está assentado em um mar de estrelas, não mais dispostas em uma esfera, mas cuja verdadeira natureza era desconhecida na época. (SCHEMMEL, 2008 ou 2009, p.25)

3.2. O escorregão de Galileu

Outro importante passo para a rejeição da cosmovisão de Aristóteles e consequente aceitação do modelo copernicano foram os estudos dos cometas. Entretanto, neste aspecto, Galileu não deu nenhuma contribuição positiva, pelo contrário, foi um defensor das ideias aristotélicas (Silva, ca. 2010).
Aristóteles acreditava que não podiam ser fenômenos celestes, por aparecerem, aumentarem de tamanho, depois diminuírem e acabarem por sumir – o que contrariava sua concepção de mundo perfeito e imutável. Assim, o filósofo grego concluiu que constituíam fenômenos atmosféricos, da mesma categoria que o arco-íris. (SILVA, ca. 2010, p.25)

Tycho Brahe, no final do século XVI, estudou vários cometas e notou que suas posições em relação às estrelas sempre variavam lentamente. Ao procurar medir suas paralaxes, ele não conseguiu determinar nenhum valor, concluindo que eram muito menores do que a Lua, o que significava que os cometas estariam bem mais distantes da órbita lunar e, portanto, não poderiam ser fenômenos atmosféricos (Silva, ca. 2010).
Na tentativa de determinar as trajetórias dos cometas, Brahe, concluiu que esses corpos celestes se moviam em torno do Sol em percursos alongados, que pensou serem ovais. O astrônomo dinamarquês verificou que eles chegavam perto do Sol e depois se afastavam muito, o que era incompatível com a ideia da existência, no céu, de esferas que suportavam os astros. Dessa forma, embora ele acreditasse que a Terra estaria parada no centro do universo, ajudou a demolir a cosmologia de Aristóteles (Silva, ca. 2010).
Curiosamente, foi Galileu quem se opôs de modo feroz à interpretação de que os cometas eram fenômenos celestes. Sem fazer nenhuma observação direta nem os cálculos de suas trajetórias, ele optou pela solução mais fácil, simplesmente negou que os cometas fossem fenômenos celestes, com trânsito além da órbita lunar (Silva, ca. 2010).

4. AS OBSERVAÇÕES E O MUNDO DE TYCHO BRAHE

Tycho Brahe (1546-1601) astrônomo dinamarquês, grande observador que deu grande impulso à astronomia, verificou o Sol, a Lua, os planetas, as estrelas, durante muitos anos, de forma contrária a seus predecessores. Brahe não aceitou o sistema de Copérnico, pois ele não era capaz de detectar as alterações nas posições relativas das estrelas, ele imaginou os planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno em volta do Sol, o Sol e Lua em volta da Terra e esta imóvel no centro do universo (BRAGA et al., 2008).

No universo de Brahe, a Terra ficava no centro, da mesma forma que no universo de Aristóteles, e o Sol girava ao seu redor, mas todos os outros planetas giravam em torno do Sol (Contador, 2014).
Figura 11 – Sistema Solar segundo a concepção de Tycho Brahe. (CONTADOR, 2014, p.123)

Para nós, o sistema de Tycho parece uma solução conciliatória entre os mundos de Aristóteles e Copérnico. Mas ele foi, na realidade, uma inovação radical. A noção dos planetas girando em torno do Sol e o Sol girando em torno da Terra destruiu as esferas de cristal dos sistemas mais antigos. (CONTADOR, 2014, p. 120)

Assim como Ptolomeu, Brahe colocou a Terra no centro do universo, com o Sol girando ao seu redor, e mesmo não sendo copernicano, da mesma forma que Copérnico, colocou os outros planetas orbitando o Sol. Seu sistema era muito complicado, mas ele não acreditava no modelo de Copérnico por questões teológicas e porque achava possível medir as paralaxes das estrelas, que o modelo copernicano assumia valores infinitos (Contador, 2014).

5. AS LEIS DE KEPLER

A Astronomia descrevia matematicamente o movimento dos astros. De acordo com a natureza dos corpos celestes, os astros deveriam mover-se, uniformemente, em círculos, ao redor da Terra. Porém, as observações mostravam desvios desse movimento, chamados anomalias (Dias et al., 2004):
1. Os planetas de tempos em tempos parecem andar para trás, em seu movimento nos céus (retrogressão);
2. Os planetas parecem não se mover uniformemente em sua jornada pelo céu, isto é, arcos iguais no céu, não são, necessariamente, percorridos em tempos iguais;
3. Os brilhos dos planetas variam, o que era atribuído a um menor ou maior afastamento da Terra.
Enquanto estudante da universidade Tubingen, Kepler teria um professor cuja amizade e o relacionamento perdurariam por toda a vida. Michael Mästlin foi o homem que verdadeiramente o influenciou no estudo do universo, pois foi ele quem teria lhe apresentado o trabalho de Nicolau Copérnico, o Revolutionibus. Desse ponto em diante, o novo Universo Copernicano passaria a fazer parte integrante da vida de Kepler (Contador, 2014).
Quando Kepler leu o Almagesto de Ptolomeu, achou, assim como Mästlin, que este havia inventado um sistema muito complicado. Aqueles epiciclos eram necessários para explicar os movimentos dos planetas, mas por causa deles o sistema tornava-se um pesadelo quase que incompreensível. Kepler achava que se existisse uma harmonia do universo, a sua estrutura não poderia ser de tão difícil compreensão. (CONTADOR, 2014, p.102)

Ao ser publicado, o De revolutionibus orbium coelestium de Copérnico provocou uma certa repulsa em toda comunidade da Europa, incluindo católicos e protestantes. Foram poucas as pessoas que compartilhavam de suas ideias, dentre as quais Kepler, seu professor Mästlin, Galileu, Clavius e Tycho Brahe. Desde então a mudança na forma de pensar de Kepler foi inevitável. Tudo parecia ficar mais fácil, apesar dos epicilos copernicanos e das estrelas fixas na esfera de cristal, foi esse novo universo menos complicado de Copérnico que entusiasmaria Kepler e o levaria a interessar-se mais pelo céu do que pela religião (Contador, 2014).
Tycho Brahe construiu melhores instrumentos que, junto com sua habilidade para observar o céu, lhe permitiram obter medidas mais precisas de posições angulares de Marte. A órbita do quarto planeta representava um desafio: hoje, sabemos que a órbita de Marte é acentuadamente elíptica, o que não é tão acentuado, no caso dos outros planetas (Dias et al., 2004).
Kepler trabalhou como assistente de Brahe. Ele usou os dados de Tycho para resolver o problema e determinar a órbita de Marte. Como ele tinha melhores dados do que seus antecessores, pôde almejar uma melhor precisão dos cálculos. Ele teve que fazer hipóteses, tentativas para ajustar seus dados aos cálculos e testá-las para muitas posições. Foi um trabalho que lhe consumiu alguns anos. Desses cálculos resultaram duas leis, em 1916 (Dias et al., 2004):
1.      As órbitas planetárias são elípticas, com o Sol em um dos focos;
Figura 12 – Lei das Elipses. O ponto dessa trajetória mais próximo do Sol é o chamado periélio e o ponto mais afastado caracterizamos como afélio. (CONTADOR, 2014, p.170)

2. A linha (imaginária) que liga o Sol a um planeta descreve áreas iguais em intervalos de tempo iguais.
Figura 13 – Lei das Áreas. A partir da segunda lei de Kepler podemos concluir ainda que a velocidade de um planeta é variável. Ela aumenta à medida que o planeta se aproxima do Sol e diminui à medida que ele se afasta. (CONTADOR, 2014, p.181)

A segunda lei de Kepler ainda pode ser enunciada de outro modo. Podemos dizer que a linha que liga o Sol a um planeta percorreu a área A1 no intervalo de tempo ∆t1 e área A2 no intervalo de tempo ∆t2. Assim, as áreas percorridas são proporcionais aos intervalos de tempo gasto para varrê-las:

Alguns anos depois, ele acrescenta nova lei: A razão entre o quadrado do período da órbita do planeta e o cubo do raio médio de sua órbita é uma constante.

6. NEWNTON, A MAÇÃ E A GRAVITAÇÃO

6.1 A história da maçã
Figura 14 – Caricatura denominada “Descoberta da lei da gravitação por Isaac Newton”, de autoria de John Leech, publicada em meados do século XIX. (MARTINS, 2006, p.168)

Uma lenda na História da Física é a da queda da maçã. São várias as versões antigas existentes sobre esse suposto acontecimento. Em uma delas, estaria sentado sob uma macieira em um jardim, quando ele teria visto uma maçã caindo da árvore. Depois disso, viria logo a sua mente um pensamento de que deveria haver alguma razão para a maçã cair no chão e não ir para cima. Imediatamente ele chegaria a conclusão de que deve existir uma força exercida pela Terra que puxa (atrai) todos os objetos para baixo, em sua direção. Depois ele daria a essa força o nome de força da gravidade (Martins, 2006).
Em outra versão, Newton tentava entender porque a Lua não se afasta da Terra e na década de 1660, quando passeava em um jardim, observou uma maçã caindo de uma árvore. Isso o teria feito pensar que, talvez, o poder responsável pela queda da maçã atuasse, também, na Lua, de modo que a Lua estaria continuamente caindo para a Terra, o que a impediria de se afastar (Dias et al., 2004).
O episódio da maçã, que teria desencadeado os estudos de Newton sobre a gravitação, aparece com grande frequência no ensino e é relatada por quase todos os professores de física e, dessa forma, sendo incorporada à cultura científica contemporânea (Martins, 2006).
Esse acontecimento teria ocorrido durante a juventude de Isaac Newton (1642-1727). Ele iniciou seus estudos no Trinity College, em Cambridge, 1661. Quatro anos depois ele obteve o título de “bacharel em artes” e permaneceu em Cambridge, para prosseguir seus estudos. No entanto, no outono de 1665 a Grande Praga atingiu a Inglaterra. A universidade foi fechada, os alunos se dispersaram e Newton abandonou a cidade, retornando à prosperidade rural de Woolsthorpe, onde havia nascido e onde a avó o havia criado. Lá passou quase todo o tempo (18 meses), até a primavera de 1667, quando a peste havia desaparecido e foi possível retornar a Cambridge. Foi nos “anos maravilhosos”, de 1665 a 1667, que Newton iniciou alguns dos trabalhos científicos mais relevantes de sua vida como o “binômio de Newton” e desenvolveu importantes ideias sobre a gravidade. A anedota sobre a maçã de Newton se refere exatamente ao tempo em que ele passou na fazenda de Woolsthorpe – mais exatamente, ao ano de 1666. (MARTINS, 2006, p.167)

Textos como os citados anteriormente mostram uma visão completamente distorcida da História da Ciência, eles dão a entender que ninguém antes de Newton havia se perguntado porque as coisas caem em vez de subir e que a simples queda da maçã despertaria nele tal questionamento.
O que acontece de fato é que muitas pessoas, desde a Antiguidade, já pensavam sobre a queda dos corpos e que já se falava de “gravidade” há mais de mil anos antes de Newton. A queda dos corpos já era descrita desde os tempos imemoriais, utilizando-se palavras equivalentes a “gravidade”, em vários idiomas, “gravitas”, em latim. Foi justamente dessa palavra latina que as palavras correspondentes em português, francês, inglês e outros idiomas europeus modernos, de forma que não foi Newton quem inventou a palavra gravidade, ela é muito mais antiga (Martins, 2006).
“Galileo, muito antes do nascimento de Newton, referia-se a gravidade e aos ‘graves’ (os corpos pesados) e sabia perfeitamente que a palavra gravidade era um nome e não uma explicação”. (MARTINS, 2006, p.171)
Se o episódio aconteceu mesmo ou não, é difícil de afirmar, o que sabemos é que Newton deixou, ao morrer, uma vasta quantidade de manuscritos, entretanto, jamais foi encontrada qualquer descrição dele a respeito da queda da maçã. Newton descreveu esse episódio para algumas pessoas quando já era idoso. Um desses testemunhos foi registrado por William Stukeley, amigo pessoal de Newton, que só foram publicadas no século XX (Martins, 2006).
Stukeley teria afirmado que certo dia depois do almoço, ele e Newton foram para o jardim e tomaram chá sob a sombra de algumas macieiras e, entre outras coisas, Newton teria confessado para ele que estariam na mesma situação em que, muito tempo atrás, a ideia da gravitação veio a sua mente. Por quê uma maçã deve sempre descer verticalmente ao solo? Teria pensado Newton consigo por ocasião da queda de uma maçã, enquanto estava sentado em uma atitude contemplativa (Martins, 2006).
  
6.2. Lei da Gravitação de Newton

Após formular sua terceira lei do movimento, Newton ao afirmar que para toda ação sempre existe uma reação igual e oposta ou as ações mútuas de dois corpos um no outro são sempre iguais e direcionadas para partes contrárias, compreendeu que se o Sol atrai a Terra, a Terra também deveria atrair o Sol com uma força de mesma intensidade. Dessa forma, se cada planeta é, por sua vez, atraído pelo Sol, então ele atrai o Sol, pela terceira lei. Assim, cada planeta é um centro de força atrativa, também. Mas, se cada planeta não só atrai como é atraído pelo Sol, também atrai e é atraído por cada um dos outros planetas (Dias et al., 2004).
A universalidade da gravitação não é tão óbvia para nós porque a força de atração que a Terra exerce sobre os corpos próximos é muito maior que a força de atração que os corpos exercem uns sobre os outros. Por exemplo, a Terra atrai uma maçã com uma força da ordem de 0,8N, enquanto que uma pessoa atrai uma maçã próxima (e é atraída por ela) com uma força de atração menor que o peso de uma partícula de poeira (Halliday et al., 2012).
Newton havia então proposto uma lei para a força de gravitação, que foi chamada de lei da gravitação de Newton: toda partícula do universo atrai as outras partículas com uma força gravitacional cujo módulo é dado por (Halliday et al., 2012):


onde m1 e m2 são as massas das partículas, r  é a distância entre elas e G é uma constante conhecida como constante gravitacional, cujo valor é:

G = 6,67 x 10-11 N.m/kg2

O valor de G é dado pelo valor da força de atração entre dois corpos de 1 kg cada, estando afastados 1 m um do outro, ou seja, 0,0000000000667 N. O que representa uma força extremamente fraca. A constante G foi medida pela primeira vez pelo físico inglês Henry Cavendish (século XVIII), bem depois da época de Newton. Cavendish fez isso medindo a minúscula força entre massas de chumbo com uma balança de torção extremamente sensível (Hewitt, 2002).
  
6.3. Lei do inverso do quadrado

A gravidade vai ficando cada vez mais fraca à medida que a distância entre os corpos aumenta. Isso pode ser percebido considerando como uma pistola de pintura espalha a tinta com o aumento da distância, por exemplo (Hewitt, 2002).

Figura 15 – A lei do inverso do quadrado. A tinta borrifada sai do bocal da lata em linhas retas radiais. Como a gravidade, a “intensidade” do borrifo obedece à lei do inverso do quadrado. (HEWITT, 2002, p.159)

Suponha que tal pistola de pintura seja posicionada no centro de uma esfera com raio de 1 metro, e que um jato de tinta viaja 1 metro para produzir um retalho quadrado de tinta que tem 1 milímetro de espessura. Se a mesma quantidade de tinta desloca-se em linha reta por 2 metros, ela se espalhará sobre um retalho que é duas vezes maior tanto na largura como na altura. A tinta seria espalhada, então, sobre uma área quatro vezes maior, de modo que sua espessura seria apenas ¼ de milímetro (Hewitt, 2002). O mesmo acontecerá com o aumento da distância em três vezes (1/9 de milímetro para a espessura), 4 vezes (1/16 de milímetro) e assim por diante.
Esse fato é conhecido como lei do inverso do quadrado. Ela vale, também, para todos os fenômenos em que a fonte localizada se espalha uniformemente no espaço ao redor, por exemplo, o campo elétrico em torno de um elétron isolado, a luz de um palito de fósforo, a radiação de um pedaço de urânio, o som produzido por uma bola atingida durante um jogo e, inclusive, com a gravidade (Hewitt, 2002).
É importante enfatizar que o termo distância d, presente na equação de Newton para a gravidade, é a distância entre os centros de massa dos corpos. Isso significa, por exemplo, que se uma pessoa pesa 800N na superfície da Terra, ela terá um peso de apenas 200N caso seja levada para uma distância referente ao raio da Terra.
Figura 16 – De acordo com a equação de Newton, o peso da pessoa (e não sua massa)diminui quando ela aumenta sua distância do centro da Terra. (HEWITT, 2002, p.159)

Não importa quão grande seja a distância, a força gravitacional da Terra vai se aproximando de zero, mas nunca chegará a zero. Mesmo que uma pessoa seja transportada para um local muito longínquo em relação à Terra, a influência gravitacional de nosso lar ainda estará lá, mesmo que seja sobrepujada pelas influências gravitacionais de outros corpos mais próximos. A influência gravitacional de todos os objetos materiais é exercida através de todo o espaço, seja ele pequeno ou esteja muito longe (Hewitt, 2002).

6.4. A gravitação perto da superfície da terra

Supondo que a Terra é uma esfera homogênea de massa M. O módulo da força gravitacional que ela exerce sobre uma partícula de massa m, localizada fora da Terra, em sua superfície, isto é, a uma distância r do seu centro é dada pela equação (Halliday et al., 2012):




Caso essa partícula seja liberada, ela cai no sentido do centro da Terra, em consequência da força gravitacional F, com uma aceleração que é chamada de aceleração da gravidadeg. De acordo com a segunda lei de Newton, os módulo de F e ag estão relacionados através da equação (Halliday et al., 2012):


Igualando as duas equações acima, obtemos:




A tabela 02, a seguir, mostra os valores de ag calculados para várias altitudes acima da superfície da Terra. Pode-se perceber que ag tem um valor relativamente alto, mesmo a 400 km de altitude (Halliday et al., 2012).

Tabela 02 – Variação de ag com a altitude. (HALLIDAY et al., 2012, p.32)

6.5. Gravitação no interior da terra

O campo gravitacional da Terra existe tanto no seu interior quanto fora dela. Imaginando que é possível cavar um túnel que atravesse toda a Terra, do polo sul ao norte (desconsiderando os fatores que tornam isso impossível), o movimento de uma pessoa ao saltar pelo buraco cairia e ganharia rapidez ao longo de todo o caminho para baixo, até o centro, e depois perderia a rapidez ao longo do caminho “para cima”, até o outro polo (Hewitt, 2002).
Figura 17 – Quando você cai cada vez mais rapidamente num buraco perfurado de um lado a outro da Terra, a sua aceleração diminui porque a parcela de massa que se encontra abaixo de si torna-se cada vez menor. Menos massa significa menos atração, até que, ao atingir o centro, a força resultante e a aceleração decorrente tornem-se nulas. O momentum que já possui permite ultrapassar o centro, seguindo com uma aceleração orientada no sentido oposto e cujo valor vai crescendo até chegar na outra extremidade do túnel, onde a aceleração volta a ser de valor g e orientada para o centro. (HEWITT, 2002, p.165)

Sem o arraste produzido pelo ar, a viagem de ida levaria cerca de 45 minutos. Caso não conseguisse agarrar a borda do buraco, a pessoa cairia de volta no sentido do centro da Terra e retornaria ao outro polo no mesmo tempo da viagem de ida (Hewitt, 2002).
A aceleração da pessoa em queda pelo buraco fica progressivamente menor à medida que ela se aproxima do centro da Terra, pois existe cada vez menos massa atraindo-a para lá. Ao chegar no centro da Terra, a atração será contrabalançada pela atração orientada para cima, de modo que a força resultante sobre ela seja nula, ou seja, a = 0 quando passar zunindo pelo centro da Terra. O campo gravitacional no centro da Terra é nulo (Hewitt, 2002).

7. EINSTEIN E A GRAVITAÇÃO

No início do século XX, Albert Einstein formulou um modelo para a gravidade completamente diferente do de Newton, em sua teoria geral da relatividade. Ele concebeu um campo gravitacional como uma curvatura geométrica no espaço-tempo tetradimensional. Einstein percebeu que os corpos produzem deformações no espaço-tempo (Hewitt, 2002).
Analogamente a uma bola massiva, localizada no meio de um colchão d’água, que deforma a superfície bidimensional do mesmo, um corpo produz a deformação do espaço-tempo (Hewitt, 2002).

Figura 17 – Curvatura do espaço. (SEMPRE QUESTIONE)

Quanto mais massiva for a bola, maior será a deformação ou a dobra produzida. Caso uma bola de gude for rolada sobre o colchão, em um local bem afastado da bola massiva, ela seguirá rolando em linha reta, no entanto, se ela for rolada próximo à bola massiva, a trajetória da bola de gude se curvará quando estiver passando pela depressão na superfície do colchão. Se a trajetória fechar-se sobre si mesma, a bola de gude orbitará ao redor da bola massiva numa trajetória oval ou circular (Hewitt, 2002).



REFERÊNCIAS

BÜTTNER, Jochen. Assim na Terra como no Céu. Scientific American Brasil. Galileu: o destronamento da Terra. Edição especial. Número 33. Pp. 54-63. São Paulo. Duetto editorial [2008 ou 2009].

BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, José C. Breve História da Ciência Moderna, Volume 1, Convergência de Saberes. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008. 3ª Edição.

CONTADOR, Paulo Roberto Martins. Kepler, o legislador dos céus. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2014.

CURY, Fernanda. Copérnico e a revolução da astronomia. São Paulo: Editora Minuano, 2003.

DIAS, Penha Maria Cardoso; SANTOS, Wilma Machado Soares; SOUZA, Mariana Thomé Marques de. A gravitação universal. Um texto para o ensino médio. Revista Brasileira de Ensino de Física. v.26, n.3, p.257-271, 2004.

HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentals of Physics. Tradução: BIASI, Ronaldo Sérgio de. Volume 2. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2012. 9ª Edição.

HEWITT, Paul G. Física Conceitual. Tradução: RICCI, Trieste Freire; GRAVINA, Maria Helena. São Paulo: Editora Bookman, 2002. 9ª Edição.

MARTINS, Roberto de Andrade. Galileo e a rotação da Terra. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v.11, n.3, p.196-211, 1994.

______. A maçã de Newton: Histórias, lendas e tolices. Pp. 167-189, in: SILVA, Cibele Celestino. Estudos de História e Filosofia das Ciências: Subsídios para aplicação no ensino. São Paulo. Editora Livraria da Física, 2006.

______. Universo: Teorias sobre sua origem e evolução. São Paulo. Editora Livraria da Física, 2012. 2ª edição.

RENN, Jürgen. A revolução de Galileu e a transformação do conhecimento. Scientific American Brasil. Galileu: o destronamento da Terra. Edição especial. Número 33. Pp. 6-15. São Paulo. Duetto editorial [2008 ou 2009].

SCHEMMEL, Matthias. Novas visões de mundo. Scientific American Brasil. Galileu: o destronamento da Terra. Edição especial. Número 33. Pp. 16-25. São Paulo. Duetto editorial [2008 ou 2009].

SEMPRE QUESTIONE. Você sabe como funciona a gravidade? Disponível em: <http://www.semprequestione.com/2015/02/voce-sabe-como-funciona-gravidade-video.html#.VwwagqQrLIU>. Acesso em: 11 abr. 2016, 18:46:05.



SILVA, Cibelle Celestino. A natureza dos cometas e o escorregão de Galileu. Pp. 20-25. Scientific American História. Os grandes erros da ciência. Edição número 6. São Paulo. Duetto editorial [ca. 2010].








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